sexta-feira, 10 de maio de 2013

Civilidade


Hoje a roupa do tanque nosso de cada dia me pareceu macia mergulhada na “clareira” de uma água de sabão dos meus talvez quatro, cinco anos. Era uma brincadeira só. De repente sinto-me em comunhão com os anos da jovem humanidade. Quantas roupas, quantos compromissos vestidos. Quantas mulheres, avós, “bisas”, quantos calos torcidos no varal “maquinando”, “arquitetando” os anos vindouros entre a luz e a sombra dos corredores úmidos e alados. Lembro-me da ofensa feita ao Maestro João Carlos Martins, no Programa Roda Viva do dia 26 de novembro de 2012, na TV Cultura. O mediador Mario Sergio Conti não merece sua roupa limpa, nem tampouco sua escolaridade. Não há dubiedade aqui, pois é só o que ele tem, ao contrário da alma objeto de suas ofensas: solta, digna, inviolável, transcendente. Há algum tempo me pego descrente da Educação ministrada, excetuando alguns cientistas e poetas. Não é um contrassenso disponibilizar a fala e a escrita formais à barbárie disfarçada de intelecto? Inveja e agressividade despropositada eram os objetivos dos grandes pensadores? Uma coisa é a pluralidade de ideias, mesmo as divergentes, no cenário de um Estado Democrático, outra coisa são os crimes contra honra, resquícios de nossa inerente condição humana, especialmente quando desprovida de argumentos e de competência. Se houve um circo ali, no sentido pejorativo, como aventou o dito cujo jornalista, foi copiado (nem criatividade se tem mais) do Império Romano: pedaços de carne na boca de leões pobremente famintos (de tudo), sob os olhos de uma plateia humanamente decaída. O carneiro continua sendo imolado. As mãos doces do Maestro que o digam. Os vestibulares, O Enem, os testes de QI (o que é isso, também), as avaliações de uma maneira geral deveriam ser precedidas de testes de capacidade de amar e/ou contemplar. Respeito. Civilidade. Trabalho. Abstração. Superação.  E também de roupas no varal, incluindo as das netas e bisnetas, abençoadas pelas mãos de sua ascendência, e a capa, por que não citar, de um Ministro digno de seu cargo. Quem fosse reprovado nos testes seria encaminhado a cursos de ética, catequeses, aulas de etiqueta, trabalho sob direção das nobres pessoas que servem em hospitais, aterros sanitários e esgotos, morando em péssimas condições, ou coisa que o valha, até a data da próxima chance e, assim, sucessivamente, até o respectivo sucesso. Algo como “ressocialização dos inseridos”. Os horizontes precisam, afinal, ser ampliados, para que haja novas descobertas e, quem sabe, com sorte, evolução. A exemplo de Boris Casoy, há alguns anos, que se desculpou publicamente após um comentário de não menos mau gosto em relação aos garis, o jornalista Mario Sergio Conti deveria se desculpar publicamente por seu lamentável fecho em relação ao Maestro João Carlos Martins, no Programa Roda Viva, da Rede Cultura.

Eloísa Kinouchi

Publicado originalmente em 29/11/2012

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