sábado, 10 de janeiro de 2015

O Lobão e os pouquinhos

O Lobão é mesmo uma figura... poucas vezes apareceu na nossa cultura alguém tão polêmico e divertido... é uma pessoa de opinião forte. Precisamos de gente assim, hoje em dia. Na música, também merece respeito. Criou coisas boas e fez muito sucesso. Difícil quem tenha uns quarenta anos e não se lembre de "Lobão e os Ronaldos". Claro que mudou muito, assim como tudo, como diria Guilherme Arantes.
Lobão

Hoje em dia, ele gosta de criticar o pessoal da Tropicália... não deixa em paz Caetano Veloso, Gilberto Gil e, principalmente, Chico Buarque.

Em algum nível, todos somos criticáveis. E as críticas nem sempre são negativas.

Como dizem em Araraquara, opinião é como c***, cada um tem a sua. A minha (acho que posso revelar, pelo menos aqui no meu blog...) me diz que alguns compositores brasileiros de música popular (cuidado com a armadilha de se dizer "Música Popular Brasileira", que não tem quase nada de popular) valorizam esta terra de tal forma que é difícil não reverenciá-los. Citarei apenas alguns, para não cometer (muita) injustiça: Ivan Lins, Djavan, Tom Jobim, Chico Buarque e João Bosco. 

Djavan criou não se sabe como uma coisa chamada "Capim" que é desconcertante. Eu jamais havia ouvido semelhante métrica, aliada a uma letra incrivelmente "encaixada" e uma harmonia inquestionável. Uma obra prima. Uma pérola. Daquelas de se mostrar aos gringos e dizer "dá boca pra você?", E o pior de tudo é que ouvi esta canção, pela primeira vez, na boca dos gringos Manhattan Transfer. Ou seja, não há brasileiros gravando esta coisa mágica, mas os estrangeiros não perdem a oportunidade.
E esta é apenas uma das canções formidáveis de Djavan, um fenômeno que, pelo menos até bem pouco tempo atrás, não sabia escrever na pauta. Explico-me: o cara não sabia escrever a representação musical que se faz com clave de sol etc. Djavan é, alem de cantor, compositor e instrumentista, arranjador. Agora você pode estar se perguntando: "como uma pessoa que não sabe escrever na pauta pode ser arranjador"? Simples, ele faz os arranjos, guarda tudo na cabeça (nem se assuste com as centenas de composições que já estão lá...) e depois pede a um copista que faça a partitura, baseando-se no "pá-pá-pá" que ele faz com a boca... simples, não?

 Djavan


Acredito também que não exista neste país (ou no mundo) intérprete semelhante a Caetano. Com sua voz que vai da preguiça da bossa nova até um grito, cantou lindamente suas inúmeras canções, que se tornaram referência dessa tal MPB, como também outras pérolas de diversos artistas. Aliás, é quem mais merece colocar as letras MPB na camisa (baby, leia na minha camisa...), porque chegou a cantar até a "dança da motinha". Foi até vaiado. Mas veja que aqui está um grande astro que não tem preconceito nenhum! Não é coerente que alguém que alegue fazer parte da "Música Popular Brasileira" aceite que existe mais no "popular" do que supõe sua vã filosofia? Podem acusá-lo de muita coisa, mas não de ser preconceituoso.

Caetano Veloso

De Chico Buarque nem há muito o que falar. As mesmas coisas surpreendentes que Djavan faz com melodia e harmonia este faz com temas que quase não se acredita de onde vieram. Chico fala intimamente de pobreza sem nunca ter sido pobre. Fala com propriedade da mulher na mesma situação. Isto sem falar nas harmonias que, olhando para o artista, parece que vieram de outra pessoa. Fantástico. Se Roberto Carlos é um E.T., Chico Buarque chegou antes...

Chico Buarque

Portanto, creio que o Lobão, em que pese todo o respeito que lhe é devido, considerando a importância que tem na cultura brasileira em todos estes anos, poderia usar a potência de sua convicção e a capacidade de angariar seguidores para algo mais relevante.